Subnotificação e falta de políticas públicas aprofundam crise silenciosa na região
Dados recentes divulgados pela Secretaria da Saúde do Ceará acenderam um alerta sobre a crise da saúde mental no estado. A Área Descentralizada de Saúde (ADS) de Canindé que inclui os municípios de Canindé, Boa Viagem, Caridade, Itatira, Madalena e Paramoti ocupa a segunda posição em número absoluto de mortes por suicídio no Ceará entre os anos de 2010 e 2024, totalizando 794 óbitos registrados nesse período.
Embora Fortaleza lidere o ranking com 2.883 mortes, o dado referente à ADS de Canindé chama atenção por se tratar de uma região composta majoritariamente por municípios de porte médio e pequeno. O volume absoluto de casos coloca a região como uma das mais críticas do estado, mesmo sem a especificação da taxa média de mortalidade na classificação por proporção populacional.
A realidade vivida pela região acompanha uma tendência estadual preocupante: o número de suicídios no Ceará cresceu 38,6% ao longo dos últimos 14 anos. Especialistas apontam que, nas cidades do interior, o problema é agravado por fatores como desigualdade social, acesso limitado aos serviços de saúde mental, estigmas culturais e a falta de políticas públicas estruturadas.
Além disso, a subnotificação dos casos é uma barreira significativa para o enfrentamento do problema. Muitas ocorrências são registradas de forma imprecisa como acidentes de trânsito, por exemplo e há falhas frequentes no preenchimento das fichas de notificação, o que compromete a exatidão dos dados e dificulta a criação de estratégias de enfrentamento eficazes.
Durante a apresentação dos dados, o psicólogo Anderson Lima reforçou a urgência de ações concretas:
“Por trás dos números, existem vidas que pedem escuta, acolhimento e cuidado.”
A fala resume um desafio que se impõe de maneira urgente: transformar os números frios em políticas públicas humanizadas. Na ADS de Canindé, isso significa investir em saúde mental, fortalecer a rede de atenção psicossocial, capacitar profissionais da saúde, e acima de tudo, assumir o compromisso coletivo com a vida.

